Gordices em Ouro Preto

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 12 de maio de 2010

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

Uma das principais fontes de riqueza do Império vinha da extração do ouro em Minas Gerais. E a capital da então província era Vila Rica, atual Ouro Preto. Foi por lá que Tiradentes foi sacaneado pelos colegas e preso antes de começarem uma caminhada pelas ruas da cidade dando vivas à República. Depois de visitar Ouro Preto, tenho certeza que os livros de HIstória estão errados e Joaquim Silvério dos Reis é inocente. A traição só pode ter sido ideia de um gordo preguiçoso que não queria ficar caminhando pelas infindáveis ladeiras ouropretanas…

Ô lugarzinho pra ter ladeira, sô!

Esclareço que gostei muito de visitar Ouro Preto (fui pra lá logo depois de sair de Belo Horizonte). Adoro museus e arte sacra, coisas que têm em abundância na simpática cidade. Mas o sobe e desce de ladeiras é pra destruir a alma (e as pernas) de qualquer gordinho. Ainda mais considerando que fiquei num hotel a uns 700 metros do centro, mas que pareciam 700 quilômetros de subidas íngremes em ruas históricas. Estava vendo a hora em que meu corpo jazeria ao lado dos heróis mineiros no Museu da Inconfidência.

Felizmente, há um serviço de táxis por lá e deu pra aproveitar as atrações turísticas de maneira um pouquinho menos sofrida no segundo dia (não havia táxis para as centenas de degraus de escadarias nos diversos museus e Igrejas, mas nem tudo é perfeito). E pensar que eu achei que estava no lucro por fugir da academia durante o feriadão…

Ainda assim, o cansaço sumia (provisoriamente) sempre que eu admirava o teto da capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis, feito por Aleijadinho, e as obras do Museu de Arte Sacra no subsolo da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Poxa, até a exposição de centenas de pedras de todas as cores e tamanhos no Museu de Mineralogia era legal. Você até se sente mais inteligente admirando pedras, ao menos até perceber que está procurando por kryptonita e adamantium e lembrar que não passa de um maldito nerd divagando numa ala de um museu científico.

Pelo menos os passeios eram entremeados por momentos de alimentação nada frugal. Desde um lanchinho regado a doces mineiros numa lanchonete grande cujo nome esqueci (sim, imperdoável, mas ela ficava no meio de uma ladeira, não que isso seja uma referência muito específica em Ouro Preto) até um almoço caprichado no Bené da Flauta, um restaurante com nome bizarro (em homenagem a um sujeito mais bizarro ainda) que fica num sobradinho bonitinho do século XVIII e que tem uma comida muito boa (claro que me enchi de torresminho de novo – ataque cardíaco, aqui vou eu!).

Mas tanta comida boa não me ajudaria na última tarefa turística ouropretana: Encarar uma mina de ouro! Sim… Entrei numa mina de ouro (embora, infelizmente, não tivesse mais ouro por lá). E se você está pensando no Indiana Jones andando de carrinho num labirinto de trilhos de madeira, esqueça: A mina Jejê (e todas as minas “de verdade” por lá) consiste essencialmente em um buraco na terra, fininho, no qual você passa a maior parte do tempo agachado ou de coluna torta, se sujando todo de terra e achando que a qualquer momento vai surgir uma minhoca gigante para te impedir de chegar ao centro da Terra.

Admito que foi divertido visitar a mina, embora em alguns momentos eu tenha duvidado seriamente se conseguiria voltar todo o caminho sem ficar entalado. Além disso, passei a respeitar os capacetes de segurança de obra. Eu estava tão estabanado e sem espaço por lá que, se não estivesse de capacete, fatalmente meu cérebro teria rachado. Sobrevivi e voltei quase ileso ao exterior, mas, em compensação, terminei o passeio mais sujo que o Cascão depois de brincar na lama.

Pra fechar o fim de semana, já cansado, estropiado, destruído, detonado e cansado (duplamente), só me restava a opção de fazer minha última refeição de maneira decente. Para tanto, eu e minha noiva zarpamos para o restaurante Senhora do Rosário. Ele fica dentro de um hotel (e quase não fomos atendidos porque estava tendo uma festa de casamento ou batizado ou falecimento de sogra por lá). A comida foi muito boa, embora sem a variedade gigantesca do Bené da Flauta (ainda meu preferido por lá). De qualquer forma, aplacou parte da minha fome e meu garantiu os pontos de energia necessários para terminar a missão (acho que ando jogando muito videogame).

Taí um panorama geral de Ouro Preto. Vale a pena visitar, mas prepare-se para ser forçado a queimar muito mais energia do que você gostaria. E, por melhor que seja a comida mineira, não dá pra repor as calorias na mesma velocidade da perda, já que os próprios restaurantes e lanchonetes estão em ladeiras (acho que só vi rua horizontal antes da placa “Bem-vindo a Ouro Preto” e depois da “Volte sempre”). Não é propriamente uma cidade para gordinhos preguiçosos, mas o esforço compensa, seu gordo preguiçoso!

Em último caso, faça como eu: Depois de sair de Ouro Preto, dê uma passadinha em Lagoa Dourada e se empanturre de rocambole para afogar as mágoas.

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Uma resposta para “Gordices em Ouro Preto”

  1. […] Crônica originalmente publicada em 12 de maio de 2010 no Papo de Gordo. […]

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