Um bate-papinho infantil

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 11 de outubro de 2010

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

– Filho de elefante! Filho de elefante!
– Ei! Meu pai não é elefante, ele é gente!
– Meu pai que disse que seu pai é elefante porque é mais gordo que um porco.
– É porco ou elefante?
– Sei lá, não entendi direito.
– Vou mandar meu pai bater no seu pai!
– Vai nada! Vai nada! Meu pai bate no seu pai porque meu pai é mais forte que seu pai!
– Meu pai é o mais forte do mundo, tá?
– É nada! Ele é gordão!
– Gordão é você, seu chato!
– A barriga do seu pai é grande! Meu pai não tem barriga grande, ele é forte!
– Ah, é? Ah, é?
– É.
– Tá. É grande. Mas eu gosto da barriga do meu pai, tá?
– Meu pai é mais forte que o seu, que só tem barriga!
– E você por acaso consegue dormir na barriga do seu pai? Consegue? Hein?
– Não…
– Então! Meu pai tem barriga fofa que dá pra dormir.
– Mas meu pai vai na academia e é o cara mais forte do mundo todo lá da academia! Seu pai vai na academia? Vai?
– Não. Ele fica em casa brincando comigo.
– Brincando com você? Pai pode brincar?
– Seu pai não brinca?
– Sei lá. Ele fica fazendo evêr… essêr… ejercício, eu acho…
– É exercício, seu burro!
– Sei lá. Só sei que ele fica fazendo isso lá em casa e é o mais forte de todos os pais porque fica fazendo isso!
– O meu brinca comigo. Eu gosto. Gosto também quando ele me leva no McDonald’s.
– Isso faz mal! Meu pai só me dá legume porque eu vou ficar forte que nem que ele é!
– Legume? Credo! A mamãe manda eu comer, mas eu não gosto. Meu pai que é legal e me dá chocolate e hambúrguer. Só que ele diz que eu tenho que comer mode… moderadicamente, eu acho.
– O que é moderadica… isso aí?
– É pra eu comer o que é gostoso mas também comer o que a mamãe manda pra ficar com saúde.
– Meu pai que nem deixa eu chegar perto de chocolate… Eu fico triste, mas nem posso chorar porque já sou homem!
– Você tem cinco anos que nem que eu, tá? Pode comer chocolate e pode chorar!
– Posso nada. Meu pai me bate se eu chorar e meu pai diz que não posso ficar gordão se não ninguém vai gostar de mim. Nem ele, tá?
– Todo mundo gosta do meu pai. Ele sempre tá cheião de amigo assim de montão quando faz churrasco, tá?
– Churrasco? Meu pai nunca que fez isso lá em casa. Ele tem amigos lá na academia dele, mas eles só falam de enzercíço… exercíço… ah, disso aí!
– Mas ele não faz festa em casa?
– Não.
– Nem tem festa no seu aniversário?
– Quando tem aniversário ele leva eu e a mamãe pra ir no parque a a gente fica correndo e fazendo errercício.
– Meu pai leva eu e mamãe no cinema e a gente come um baldão de pipoca e fica rindo vendo desenho. É legal.
– Meu pai não me deixa comer pipoca. E é só a mamãe que me leva no cinema porque o papai diz que só gosta de filme de po… porraida, eu acho. E eu sou muito pequeno pra ver.
– Meu pai é mais legal que o seu pai! Nhenhenhéé!
– Mas meu pai…
– O quê?
– Será que meu pai fica com raiva se eu pedir pra ele virar elefante?

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6 respostas para “Um bate-papinho infantil”

  1. Mr. von Ras disse:

    PARABÉNS LÚCIO

  2. @jojonerd disse:

    Muito legal a discussão dos meninos!

    Ri demais.

  3. Michael C disse:

    HAHAHA PArabens , ri muito

  4. Leo Luz disse:

    Nhyaaaaaa, que dó deles!

    São de conversas assim que a infância é traumática para uns!

    Parabéns pelo texto Tio Lucio!

  5. Lucas disse:

    hahaha legal, meus pais são magros e eu fui gordo na minha infância, imagina que meus pais faziam esse apelo psicológico pra mim, meus próprios pais, aff.

  6. […] Crônica originalmente publicada em 11 de outubro de 2010 no Papo de Gordo. […]

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