Então, foi Natal…

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 25 de dezembro de 2012

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

Então, foi Natal...– Ricardo… Acorda…
– Me deixa dormir…
– Acorda logo, pombas!
– Hein? Sandra? O que você está fazendo na minha casa?
– Não estamos na sua casa. A gente está no hospital.
– No hospit… Cacete! Ai, minha cabeça! O que aconteceu?
– Você não lembra de nada?
– Não… Eu fiz alguma coisa errada?
– Sim! Você fez uma coisa muito errada! A coisa mais errada da história da humanidade!
– Desculpa, amor. Seja lá o que eu fiz, me desculpa…
– Você não se lembra de nada?
– Não. Nadinha.
– Não acredito que você não lembra de ter bebido todas na ceia! Na frente da minha família toda!
– Eu lembro que o vinho estava bom…
– Pois é. Tão bom que você entornou quase a garrafa inteira!
– Eu fiz muita vergonha?
– Vergonha!? Vergonha é pouco! Teve uma hora que você tirou a camisa e ficou passando rabanada no corpo dizendo que era sabonete!
– Sério?
– Pior que o Juninho ficou chorando a noite toda porque ele queria comer rabanada, mas não sobrou nenhuma.
– Isso explica esse cheiro de leite…
– Depois, você cismou que queria se vestir de Papai Noel como forma de se desculpar com o menino.
– Eu me vesti de Papai Noel?
– Antes não tivesse se vestido! Você vomitou dentro do saco de presentes na frente das crianças!
– Sério?
– A Aninha até perguntou se o Papai Noel era mau! Acredita numa coisa dessas?
– Desculpa…
– Desculpa o caramba! Depois de estragar todos os brinquedos, você ainda pegou o chester que minha avó preparou com todo carinho e fez uma coisa horrível!
– O que… o que eu fiz com o chester?
– Prefiro nem comentar! Foi um nojo! Uma pouca-vergonha! Nunca mais vou ter coragem de olhar para um chester sem lembrar do que você fez!
– Mas como eu vim parar no hospital?
– Depois de atacar o chester, meu irmão te jogou pro meio da rua, vestido de Papai Noel, todo vomitado, com a calça abaixada e fedendo a rabanada. Eu fui atrás porque fiquei preocupada. Que idiota eu sou!
– Mas, o que houve?
– Você começou a dizer que precisava voltar para o Polo Norte e que ia procurar suas renas.
– Sério?
– Aí você começou a correr no meio da rua que nem um louco cantando músicas do Roberto Carlos.
– Sério?
– Quando estava cantando a música da banguela, você viu uma antena de celular e resolveu subir!
– Como? Isso é impossível!
– Eu também achei, mas sabe-se lá como você, mesmo bêbado e tropeçando nas próprias pernas, conseguiu subir a tal antena!
– Então eu vim parar no hospital porque caí da antena? Poxa… Realmente foi horrível… Desculpa te fazer passar por isso tudo, mas acho que você exagerou quando disse que foi a coisa mais terrível da humanidade. Eu sei que fiz você passar vergonha na frente da sua família e traumatizei várias crianças, mas eu posso me retratar com todo mundo…
– Cala a boca que eu não terminei!
– Tem mais?
– Quando você chegou no topo da antena, você se jogou dizendo que ia voar que nem o Super-Homem!
– Sério? Mas se eu consegui subir tão alto, era para eu estar mais quebrado do que estou agora!
– Pois é. Só que você foi salvo porque caiu em cima de um trenó voador!
– Ah, bom, eu… QUÊ?
– Você caiu, como que por milagre, em cima de um trenó voador! Só que o impacto fez com que o condutor perdesse o controle e fosse direto pro chão a toda velocidade!
– Um… trenó…
– Com o impacto, quatro renas morreram e as demais ficaram feridas! E o motorista do trenó morreu na mesma hora de traumatismo craniano! Milhares de presentes caíram de um saco gigante e ficaram espalhados pela rua, provocando um grande acidente quando um caminhão estourou o pneu em uma coleção de carrinhos de madeira!
– Presentes… caminhão…
– A polícia e os bombeiros chegaram e não acreditaram no que aconteceu! Conseguiram fechar as ruas e, por milagre, tinha pouca gente na rua e quase ninguém viu aquela confusão! Quem viu, teve que assinar um acordo e está sendo observado por agentes federais! O governo está mantendo tudo em sigilo para que a população não descubra a verdade, o que poderia levar a suicídios em massa e ao fim da humanidade como a conhecemos!
– Então… eu…
– É, Ricardo! Você matou o Papai Noel!
– Mas… mas…
– Adeus, Ricardo! Depois disso, nunca mais quero nem olhar na sua cara!
– Sandra! Espera! Eu… Meu Deus, me perdoa! Nunca imaginei… Eu… Faço qualquer coisa… Eu posso tentar compensar… Dedicar minha vida a alegrar as crianças… Posso fazer caridade, comprar presentes… Não vai mudar o que eu fiz, eu sei… E também nunca mais vou beber! Juro! Mas não me abandone…
– Você não merece, mas vou te dar uma chance. Se você provar que realmente mudou, que realmente pode ser uma pessoa melhor, talvez eu consiga te perdoar.
– Meu Deus… Papai Noel… Nunca imaginei…

– E aí, Sandra? O Ricardo está bem depois de ter caído daquela antena? Que sorte que ele não conseguiu subir muito alto de tão bêbado que estava ou podia ter acontecido alguma desgraça.
– Relaxa, mano. Acabei de conversar com ele. O safado está inteiro. Pelo menos, ele nunca mais vai beber e nem fazer com que eu passe por outro vexame que nem o de ontem.
– Como você pode ter certeza?
– Milagre de Natal. Com uma ajudinha da minha imaginação, claro, mas ainda assim um milagre de Natal. Obrigada, Papai Noel.

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3 respostas para “Então, foi Natal…”

  1. Paulo Henrique de Andrade disse:

    ai magrelo muito boa esta,me lembra de meu irmão pagando mico no natal

  2. Reinaldo Chen disse:

    Um conto de natal para colocar Ricardo ao lado do velho Scroge …

  3. […] Crônica originalmente publicada em 25 de dezembro de 2012 no Papo de Gordo. […]

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