A baleia pedagógica

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 03 de janeiro de 2011

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

O bullying é um assunto sério. Porém, como a maioria das coisas que as crianças fazem, as atitudes de preconceito e violência costumam ser reflexo do que elas veem em casa, mesmo que os pais adorem colocar a culpa na TV (diante da qual eles põem os filhos para que não encham o saco), na internet (diante da qual eles põem os filhos para que não encham o saco), nos gibis (diante… bah, você já entendeu) e por aí vai.

Como os pais acabam jogando a responsabilidade da educação dos filhos para as escolas (é bom ter alguém a quem culpar), é natural que surjam iniciativas antipreconceito voltadas para a sala de aula. Um exemplo interessante é o livro “Apelido não tem cola”, de Regina Otero e Regina Rennó, publicado pela Editora do Brasil. Ele é voltado para crianças pequenas e é bem direto na abordagem dos mais diversos apelidos, como podemos ver no extrato abaixo (clique nas imagens para vê-las em tamanho maior):

Tudo bem que o moleque tinha mesmo um jeitinho de baitola, mas não é isso que está em questão. O ponto é que o livro não tem problema em mostrar apelidos como “burro”, “negão” e “quatro olhos” com explicações do que realmente significam e o quanto podem ofender (afinal, hoje em dia tudo ofende, né?). Parabéns então para as autoras pela coragem de ter essa abordagem já em 1994 (quando foi lançada a primeira edição do livro).

Entre os apelidos apresentados, temos “baleia”. Legal que tenham pensado nos gordinhos. Mas aí que vem um detalhezinho: diferente dos ouros apelidos, a “baleia” ganha umas páginas extras, não apenas com a explicação do que a palavra significa e o quadrinho para que a criança escreva como se sentiria se fosse chamada assim. Confira (clique nas imagens para vê-las em tamanho maior):

“Laura é gorda sim, mas não é uma baleia”. Até aí, tudo bem (mesmo que, na capa, o termo “gordo” esteja no contexto de ofensa). A menina é uma rolhinha de poço, ora bolas, não dá pra negar, e isso não é motivo para xingá-la. Porém, ela deve ser um caso à parte dos demais apelidados, já que na página final as crianças estudiosas devem assinalar corretamente o que a fofinha pode fazer para se sentir melhor, como comer frutas, comer menos doces, praticar esportes.

Deixando mais claro: Para Laura e “as pessoas que são mais gordinhas” possam se sentir melhor, elas não devem ignorar o apelido ofensivo e ser felizes como são. Têm, na verdade, que comer frutas (afinal, gordos não gostam de frutas), comer menos doces (lógico que a pessoa é gorda porque se empanturra de doces) e praticar esportes (gordo é tudo preguiçoso, oras), entre outras dicas.

Para um livro que se propõe a permitir que os professores trabalhem com os estereótipos e que até cumpre seu papel na maioria das páginas, fica uma sensação ruim ver que eles tratam os gordos de forma tão estereotipada. Afinal, do jeito que são apresentadas as dicas, não há a possibilidade de que Laura faça tudo aquilo e tenha, por exemplo, problema de tireoide: gordos simplesmente não fazem o que está na lista.

Depois de ler o livro, as crianças aprendem que a “dente de coelho” não precisa colocar aparelho para se sentir melhor, que o “quatro olhos” não tem que usar lente de contato e que nem mesmo o “burro” precisa estudar. Mas a gordinha tem que emagrecer ou vai ser triste, independente de ganhar ou não apelidos.

Claro que as crianças gordas devem perder peso, isso é uma questão básica de saúde que ninguém com bom senso contestaria. Mas um livro que se propõe a agir contra o bullying e o preconceito tem que mostrar que devemos respeitar os outros. Contudo, o que as crianças aprendem é que, se a Laura é gorda porque é preguiçosa e comilona, não podemos chamá-la de baleia (já que “baleia é baleia”), porém chamar de gorda é perfeitamente aceitável, não importa a conotação. Afinal, “só é gordo quem quer”, como estamos carecas de saber.

Detalhe: O único outro apelido que ganha um rol de dicas de comportamento é “porco”. Portanto, crianças, aprendam: Tão ruim quanto ser um porquinho é ser um balofinho. Ainda bem que esse livro não foi lançado quando eu estava no Primário. Eu era um moleque porquinho e gordinho, mas, felizmente, não me ensinaram que eu devia ser triste e nem ensinaram a meus colegas que eu deveria ser diferente, já que eu me sentia bem comigo mesmo e eles me aceitavam como eu era. E sem apelidos.

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3 respostas para “A baleia pedagógica”

  1. Mi disse:

    Vou comprar o livro pros guris, achei super interessante!

  2. Jéssica disse:

    É terrivel ser gordinha o.o Eu nunca tive apelidos, meus colegas eram bacanas nesse sentido, porem eu era totalmente ignorada e isso me machucava pacas, hoje virei uma mina mt nerd (bendito pc) e anti social, mas bem, cada um com seus problemas ne. Eh fods…

  3. edilaine disse:

    meu nao inproda se a pessoa e gorda magara feia bonita loira negra amarela azul etc… as pessaos dei que cuidar da sou vida e nao a dos outro deus de a vida pra cada um cuidar e pq sa pessaos nao cuidam pq as pessaos sam precomceidusas

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