Pílulas para emagrecer

Vinicius Tapioca
@DrTapioca

Publicado em 10 de abril de 2010


O tratamento farmacológico da obesidade avançou muito nos últimos anos e se popularizou rapidamente. Afinal, quem não quer emagrecer sem fazer esforço? Só que, à medida em que as drogas vão sendo lançadas, vão também surgindo polêmicas sobre seus efeitos colaterais. Algumas são tarjadas como psicotrópicos, outras são tiradas do mercado e há aquelas que são rejeitadas socialmente.

As primeiras substâncias usadas como anorexígenos foram as anfetaminas. Sintetizadas pela primeira vez em 1887, eram utilizadas inicialmente como descongestionante nasal. Elas agem no sistema nervoso central aumentando a produção de noradrenalina e dopamina, neurotransmissores que agem no centro da fome, localizado no hipotálamo. Com isso, inibem o apetite e aumentam a sensação de saciedade. No entanto, também provocam constipação intestinal, insônia, agitação psicomotora, irritabilidade, ansiedade, dor de cabeça, secura na boca, taquicardia, hipertensão e diminuição da libido. Por serem psicotrópicos, podem causar dependência, tolerância (necessidade de doses mais altas com o tempo para manter o mesmo efeito) e crise de abstinência quando interrompido abruptamente. Devido a isso, são medicamentos tarja preta e só podem ser comprados com receita azul, sendo ilegal o uso sem acompanhamento médico adequado.

As anfetaminas mais conhecidas no mercado são a anfepramona (Dualid® e Inibex®) e o femproporex (Desobesi® e Lipomax®). A metanfetamina não é utilizada no tratamento da obesidade devido ao seu grande efeito de excitação e sensação de poder e o alto grau de dependência. As anfetaminas são muito utilizadas (ilicitamente) por caminhoneiros para dirigir durante a noite, chamadas de rebite ou arrebite (a depender da região) e foram usadas durante a 2ª Guerra Mundial pelo exército alemão e na Guerra da Coreia pelas tropas americanas para combater a fadiga da batalha.

Outra droga de ação menos agressiva é o orlistate (Xenical® e Lipiblock®). Ele praticamente não é absorvido e age somente no tubo digestivo inibindo as lipases, enzimas responsáveis pela digestão e absorção das gorduras. Dessa forma, diminui em 30% a assimilação da gordura ingerida, eliminando-a nas fezes. Os efeitos colaterais limitam-se a diarreia, esteatorreia (fezes gordurosas), flatulência com gotículas de gordura (um verdadeiro “spray” borrifando a roupa íntima) e cólicas intestinais. Obviamente, esses efeitos variam de intensidade a depender da quantidade de gordura ingerida pelo usuário, obrigando o cidadão a fazer uma dieta hipolipídica rigorosa.

O orlistate ainda beneficia os pacientes com propensão a desenvolver diabete tipo 2, diminuem o risco cardiovascular e reduzem os níveis de LDL-Colesterol (“colesterol ruim”), mas, mesmo sendo uma droga clinicamente segura e confiável, socialmente é rejeitada devido aos efeitos colaterais relatados acima, que embora sejam pouco agressivos à saúde, incomodam muito o dia-a-dia da pessoa.

Atualmente, o fármaco mais utilizado no combate à obesidade é a sibutramina (Plenty®, Reductil®, Sibus®, entre muitos outros, inclusive genéricos). Ela age inibindo a recaptação da serotonina e noradrenalina. Diferentemente das anfetaminas, ela não aumenta a síntese dos neurotransmissores, apenas diminui sua reabsorção. Inicialmente, se pensava que ela fosse ter um efeito antidepressivo como outros inibidores da recaptação da serotonina (fluoxetina, paroxetina, sertralina, etc), no entanto, os estudos não comprovaram sua eficácia nos transtornos do humor, mas sim uma diminuição da ingestão calórica devido a um aumento da saciedade (ação sobre o centro hipotalâmico da fome).

Como efeitos colaterais, apresenta dor de cabeça, secura da boca, insônia, lombalgia (dor nas costas), vasodilatação, taquicardia, palpitações, hipertensão, constipação intestinal, náuseas, dispepsia (queimação no estômago), vertigem, parestesia (dormências), dispnéia, sudorese, alteração do paladar e dismenorréia (transtornos menstruais). Um dado interessante apresentado em alguns estudos foi um número significativamente maior de casos de infecção de ouvido, sinusite e resfriado entre pacientes usuários do medicamento em relação a usuários de placebo, porém esses eventos foram de intensidade leve ou moderada, com duração limitada e sem relação com baixa de defesa do organismo.

A real preocupação da sibutramina são seus riscos cardiovasculares, aumentando em 16% a possibilidade de episódios graves em pacientes com história de doença cardio e cerebrovasculares e em obesos diabéticos com mais um fator de risco cardiovascular (hipertensão, dislipidemia, história familiar). Por esse motivo, foi suspenso o uso deste fármaco na Europa e houve um aumento da preocupação dos órgãos regulatórios nos EUA e no Brasil, ampliando as contraindicações desta droga, sendo que aqui ela só pode ser vendida com receita de controle especial (“receita azul”).

Pra não dizer que eu não falei de Acomplia® (rimonabanto), medicação proibida no Brasil desde outubro de 2008, quero apenas informar que se tratava de uma droga que teve um grande impacto no seu lançamento, mas foi rapidamente tirada do mercado mundial devido a estudos que revelaram que os usuários apresentavam o dobro de risco de desenvolver problemas psiquiátricos, como ansiedade e depressão, comparado àqueles que não utilizaram o produto.

A medicação antiobesidade perfeita, aquela que permite comer tudo e faz emagrecer sem esforço e sem efeitos adversos, não existe. O tratamento ideal deve ser multidisciplinar (com médico, nutricionista, psicólogo e educador físico), individualizado (decide-se o que é melhora para cada paciente) e o uso de medicações deve ser acompanhado de perto por um profissional experiente. Nunca se automedique, os riscos à saúde não compensam os quilos a menos.

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3 respostas para “Pílulas para emagrecer”

  1. Luciane disse:

    gostaria de saber informações sobre o uso simultaneo do xenical com o desobesi.

  2. Nalva disse:

    Então usei 2 meses e ótimo emagreci mesmo , mais depois que parei quase morro com intestino preso , e não menstruo a 3 meses.

  3. Fernanda Fontes disse:

    Bom estou tomando, subtramina e estou perdendo muito peso, sem apetite nenhum, porém sem evacuar, sem mestruar, mas estou no segundo mês e pretendo parar na terceira caixa….Perdi muito peso

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