Ming e Eu

Eduardo Sales Filho
@eduardo_sales

Publicado em 07 de maio de 2010

Contrapeso

Assim como a esmagadora maioria das pessoas, chorei feito uma menininha quando assisti “Marley e Eu”. Esse filme não emociona apenas quem gosta de cachorros, e sim todo mundo que já amou um dia.

Que me perdoem aqueles que preferem os gatos, mas não há maior prova de que o amor existe do que a relação entre um cachorro e seu dono. Os cães, ao contrário dos malditos felinos, se apegam à pessoa e não à sua casa. Eles percebem quando seus donos estão tristes e se aproximam para consolá-los; entendem quando fazem algo errado e sabem usar como ninguém aquela carinha triste que torna impossível para qualquer um com um coração pulsando no peito brigar com o pobre coitado.

Adoro cachorros. Tive vários ao longo da minha vida, mas farei esse texto para falar apenas de um, meu primeiro bichinho de estimação, um “viralatês” – mistura de vira-lata com pequinês – chamando Ming.

Eu não tinha mais do que cinco anos quando uma amiga deu Ming de presente para minha irmã, mas lembro vividamente do dia que ele chegou lá em casa. Estava deitado no sofá quando ouvi minha irmã mais velha dar um grito de alegria. Levantei rapidamente pra ver do que se tratava e vi em suas mãos um cachorrinho preto com algumas pintas brancas. Ele era bem pequenininho e parecia assustado com o barulho a sua volta. Foi amor a primeira vista.

Apesar de não ser o meu cachorro, pelo menos não ainda, eu e Ming nos tornamos melhores amigos rapidamente. Ele costumava me seguir sempre que ia dar uma volta de bicicleta, ou então ficava sentado ao meu lado na porta de casa vendo o movimento da rua. Quando minha irmã foi estudar em Salvador e deixou Ming para trás, já estava evidente pra todo mundo quem seria o seu novo dono.

Ming era um cachorro extremamente inteligente, ele realmente conseguia entender o que falávamos… só isso explicaria as milhares de histórias que todos em minha família conhecem.

Além disso, ele tinha o estranho hábito de subir em muros. Isso mesmo, apesar da sua estatura diminuta, Ming dava um jeito de escalar o muro da minha casa e perseguia os gatos em seu próprio ambiente. Era engraçado notar a cara de susto dos bichanos quando viam um cachorro correndo enlouquecidamente em sua direção.

Ming era um cão praieiro, passava todo o verão com a gente na Ilha de Itaparica. Ele ficava deitado na sombra até que sentia calor e ia dar um mergulho no mar. Depois de se refrescar, e se secar daquele jeito que só os cachorros sabem fazer, voltava pro seu ponto inicial e ficava lá. Esse processo se repetia várias vezes ao longo do dia.

Infelizmente o tempo foi passando, eu também precisei deixar Amargosa para estudar em Salvador e Ming, já bem velhinho, ficou sob os cuidados do meu pai. Todo dia Ming ia para a casa da minha tia e passava a tarde brincando e dormindo em seu jardim, até que um dia ele dormiu e não acordou mais.

Acho injusto os cães viverem tão pouco, mas sei que Ming aproveitou muito bem os seus 12 anos de vida. Ele foi feliz, fez uma família feliz, e durante muito tempo foi o único amigo de um certo garoto gordinho que, ainda hoje, sente a sua falta.

Esse texto é dedicado à Scooby e meu grande amigo Cesar. Não se preocupe, meu velho. Tenho certeza que a essa hora Ming e Scooby estão brincando muito no céu dos cachorros.

PS: Escrevi este post em janeiro do ano passado para o Me Tire deste Ócio. Porém, depois do Papo de Gordo sobre bichos de estimação e o recente falecimento da “filhota” do meu grande amigo Maycon – mais conhecido como Jabour_rio, achei que tava na hora de publicá-lo aqui também.

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12 respostas para “Ming e Eu”

  1. @Rodrigo_Motta disse:

    Gostei do texto. Bem gay como eu imaginava que seria. :D kkkkk ON ON ON Ming!!!

  2. Debora Martins disse:

    Lindo texto, todo mundo que já teve um amigo felino ou canino entende a falta que eles fazem quando nos deixam, sempre cedo demais. Só acho injusto dizer que os felinos não se apegam aos donos, pelo menos os felinos que eu já tive, sempre se apegaram à alguem em especial da minha família. Hoje a minha "filhota" que me adotou na primeira vez que eu a vi e morri de amores por ela, dorme no meu quarto, só pede comida pra mim, qdo eu to em casa, ela fica sempre por perto, ela veio na mudança aqui pra Caldas Novas, e se adaptou bem a nova casa, novo clima. Acho que a grande diferença entre gatos e cachorros, é que os gatos brincam com você, não gostam que você brinque com eles, o que os torna menos dependentes de nós, e passa essa impressão de que ele não se importam.

  3. .
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    Perder um cachorro é , para mim, como perder um filho… A Dana estava comigo há 11 anos. Pegamos ela na rua em 1999 e ela devia ter uns 3 meses na época… Infelizmente a saúde dela piorou muito de janeiro pra cá e ont em (06/05/2010) às 14:00 liberei a veterinária pra fazer a eutanásia pois já não era possível que minha filha vivesse sem sofrer…
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    Valeu Dudu pela fo rça… Tu é um amigo foda… Abração
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  4. CARO AMIGO BELO TEXTO.EU SEMPRE ACREDITEI E ACREDITO QUE OS CÃES SÃO ANJOS EM NOSSAS VIDAS TERRENAS COMO VC DISSE EM SEU TEXTO ELES SEMPRE ESTÃO AO NOSSO LADO EM MOMENTOS DIFICES SEM PRE COM UM CARINHO A DA SENTEM TODA EMOÇÃO OU TRISTEZA QUE ESTAMOS NO MOMENTO TODOS QUE GOSTAM DE CACHORRO SEMPRE TEM UMA BELA HISTORIA PRA CONTAR DE SEUS FIEIS COMPANHEIROS.

  5. Carolina disse:

    Que lindo o Ming!!

  6. Mi disse:

    Esse ano meu felino-cão morreu também, sim, felino-cão, porque ele era um siamês, para quem não sabe, os siameses se comportam em relação à casa como se fossem cães. Ele tinha 13 anos, nasceu lá em casa e passou conosco todos os segundos de sua vida.
    Compartilho a dor de quem perdeu seus amigos e companheiros, amei esse post, Dudu (apesar de não te reconhecer na foto da praia, qual deles é tu???)
    Abração!

  7. Tiago disse:

    Também acho injusto os cães viverem tão pouco. Só faz ter ainda mais valor a lealdade e o amor sincero que eles nos proporcionaram, algo cada vez mais raro entre as pessoas atualmente. É como os pais terem que enterrar seus filhos.

    Meu primeiro cão (quem não se esquece do seu primeiro) ficava na casa de meu avô, pois moravamos em apartamento. E lá viveu feliz durante toda a minha infância. A única vez que vi meu inabalável avô chorar, foi no dia em que perguntei onde estava a Pituxa e ele não conseguiu responder. Na manhã daquele mesmo dia ele havia enterrado ela no jardim.

    Parabéns pelo post Dudu! E gato também é cachorro!

  8. Ricardo Ferro disse:

    Dudu

    Cara, quando eu vi a foto, eu pensei que era do meu cachorro King, um que eu tive por volta dos meus dez anos de idade. Era quase, quase igual ao seu Ming. Só que o meu King tinha uma pelagem branca em volta do pescoço, como se fosse uma coleira.

    Quando o pegamos, ele era um filhotinho de uma cruza igual ao seu: pequinês com vira-latas. E lembro que ele adorava deitar no chão com as patas traseiras abertas, pra colar a barriga no chão frio. Ficava parecendo que estava "esquartejado". Era engraçado. MAs o bichinho veio com um defeito de fábrica: vermes. CAramba, eram muitos vermes! Impressionante! E haja tratamentos e remédios, mas nada adiantava. Volta e meia, olha o bichinho de novo expelindo as minhoquinhas brancas. Uma vez, eu lembro, eu estava brincando com ele no quarto e de repente ele começou a choramingar e foi arrastando a bundinha pelo chão. Eu já sabia que dali viria uma verme. Resolvi pegar um papel higiênico e numa atitude nada higiênica, eu quis livrá-lo do incômodo e comecei a puxar-lhe o verme das entranhas. Era enorme!
    Saí correndo com o papel na mão – e o verme enorme ali pendurado – , cheguei na sala, onde minha mãe estava jantando e mostrei: "Mãe, olha o tamanho da verme q eu tirei de King!". Não preciso dizer que minha mãe devolveu todo o seu jantar, ali na minha frente, pelo chão da sala.
    Mas nao ficamos com ele até o final. Precisamos nos mudar de endereço e o deixamos com uma amiga da família que tinha uma casa e um quintal enorme. E um marido veterinário, que prometia resolver os problemas dele.

    Desde a dor da separação, nunca mais quisemos ter outro bichinho de estimação.

    Agora Catarina está crescendo e querendo ter um cachorrinho… Lá vamos nós… será? Ainda não sei.

  9. Mariza Sales disse:

    Meu Gordo, foi muito legal o seu texto sobre Ming.Lembra que ele além de subir nos murros como um gato, não gostava de dormir no chão? Toda manhã, Cristina acordava reclamando que a toalha estava cheia de pelos… Mink não dormia fora de casa, e, na época do veraneio disputava o quarto com ar condicionado.

  10. Talita disse:

    Belo texto, muito legal sua história!

    Apenas uma observação: quem disse que gatos se apegam a casa e não ao dono? Os meus gatos são carinhosos, sabem quando estou triste, não gostam de discussões em casa e ficaram ao lado do meu computador todas as noites em que precisei fazer trabalhos ou estudar até tarde, recusando a cama e o cobertor quentinho.

    Gatos e cães são diferentes, acho injusto com ambos estas comparações de qual é melhor.

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