O bombeiro martelinho de ouro

Eduardo Sales Filho
@eduardo_sales

Publicado em 08 de novembro de 2016

bombeiro em ação

Na volta pra casa ontem à noite peguei o Uber do José Roberto. Ele trabalha como motorista há quatro meses e disse que estava feliz com os resultados até agora, mas que passou a sentir medo de ser assaltado desde que a empresa criou a opção de efetuar os pagamentos das corridas diretamente em dinheiro.

Sem ter maiores informações do passageiro e de pra onde ele quer ir antes de buscá-lo, José acha que fica muito exposto aos riscos. Tenho minhas sinceras dúvidas se os ladrões (ou as pessoas como um todo) sabem que os motoristas da Uber poderiam estar carregando uma quantidade considerável de dinheiro, mas ainda assim concordo que seria mais seguro aceitar pagamentos apenas no cartão de crédito, no entanto não é sobre isso que vou falar neste texto.

martelinho de ouroAlém de dirigir pelas ruas de São Paulo, José Roberto também trabalha como Martelinho de Ouro. Ele atende a domicílio, diga-se de passagem. Funciona assim: você tira fotos dos amassados do seu carro e manda via Whats App para avaliação. Dependendo do estrago na lataria, ele já te diz se consegue arrumar ou se a única opção será uma nova pintura mesmo.

Ele me disse que consegue conciliar as duas profissões numa boa e que sempre carrega as ferramentas de trabalho no carro pro caso de algum cliente surgir ao longo do dia.

José Roberto aprendeu a fazer Martelinho de Ouro na época em que trabalhava como bombeiro na Ford. Ele fazia vistorias de segurança na fábrica de São Bernardo e conheceu um cara que era especialista em tirar pequenos amassados dos carros na linha de produção. Depois de aprender algumas coisas com esse sujeito, ele fez um curso pra se especializar mas demorou alguns anos antes de realmente começar a trabalhar com isso.

Em 2011 ele foi demitido da Ford e passou a trabalhar como bombeiro especialista em produtos químicos. Passou Treinamento de bombeirocerca de dois anos e meio morando em Camaçari (Bahia) enquanto conduzia treinamentos de segurança no Pólo Petroquímico e atendia emergências no Nordeste como um todo.

José chefiava uma equipe de três pessoas e atendia, em média, duas emergências por semana. Na maior parte das vezes eram coisas simples, tipo caminhões de combustível que tombaram nas estradas, mas uma vez eles precisaram passar 28 dias em Natal (Rio Grande do Norte) por conta de um acidente grave que resultou até mesmo em contaminação do solo.

Ele atendeu inúmeras ocorrências de carretas tombadas nas estradas e contou que era comum a nota fiscal dizer que o caminhão carregava um produto mas aquilo que foi derramado era outra coisa completamente diferente, então ele sempre precisava avaliar o derramamento de fato, pois cada substância tem uma forma distinta de se lidar e neutralizar.

Num desses acidentes ele relatou ter visto um homem mexendo no pulso do motorista que estava no meio das ferragens. José Roberto achou que o sujeito era médico ou socorrista e estava checando os sinais vitais do cara, mas na verdade tava só roubando o relógio dele mesmo. Furtos inclusive eram muito comuns. Vários idiotas arriscavam as suas vidas tentando pegar gasolina com baldes ou galões sempre que um caminhão-tanque virava na estrada.

Com a crise no setor industrial, perdeu o emprego e voltou para São Paulo com a sua família. Enquanto o mercado não melhora, ele vai se virando tirando amassados dos carros e dirigindo pela cidade. Então se você estiver precisando de um motorista bom de papo ou de um Martelinho de Ouro, basta ligar pro José Roberto. O cartão dele está aqui.

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