As aventuras do gordinho bandido

Gordo Convidado
@papodegordo

Publicado em 02 de maio de 2009

Gordo Convidado

Eduardo Sales Filho, proprietário deste blog, chefe de cozinha, professor universitário, diva do Twitter e instrutor de ritmos latinos, como salsa, lambada e merengue – sobretudo quando o merengue vem acondicionado numa bacia de leite condensado, acompanhado de uns moranguinhos – me convidou gentilmente para inaugurar essa seção nova do novíssimo (e muito mais bacana) Papo de Gordo. Eu, sendo gordo e saidinho, fiquei feliz em conversar com gente nova e aparecer por aqui. Mas o problema era o tema.

Espertinho que é, o jovem peralta, mais conhecido nas bocadas como Dudu, deixou a coisa em aberto. “Fala de ser gordo, ou de micos, ou de coisas assim”. Complicou. Mico não falta. Pensei em contar como eu ganhei o epíteto de “gordinho bandido”, mas não se chega na casa dos outros com um pacote de roupa suja para lavar. Não é historinha: muita gente me conhece assim. Claro que todo gordo é conhecido e chamado de “gordo”. Ou de “Tim Maia”, ou de “”… Os outros gordos que conheço, pelo menos, já sofreram com coisas assim. Eu, o gordinho bandido, normalmente reajo mandando o interlocutor enfiar o apelido em seu orifício peidante (não falei palavrão, viu, Dudu? sem censuras…), mas a alcunha de gordinho bandido pegou, a despeito de quantos palavrões por segundo eu conseguisse proferir.

O lance da coisa é que ninguém fala “narigudo bandido” ou “oxigenada bandida” . Talvez o careca bandido possa existir e não faltam meliantes chamados pelos comparsas de “careca”, não importando, no caso, a quantidade de cabelo grudada na cabeça do bródi. Mas isso nos mostra o quanto o cara que é gordo carrega, além do próprio peso, um estigma. Se, em algum momento da vida eu der certo e ficar rico, serei “o milionário gordinho”; se tudo o mais der errado, inclusive o plano B de ir morar em Arembepe fazendo artesanato, e eu me tornar o líder de alguma quadrilha que assalta bancos, é certo que o Wiliam Bonner anunciaria o treco assim: “preso Jorge Martins, vulgo Gordinho Bandido”.

Mas voltemos à coluna: Não contarei a historinha da bandidagem, que seria interessantíssima, principalmente porque o blog dele tem audiência (ao contrário dos meus) e eu sou ambicioso, daí resolvi não me queimar. Pensei em falar sobre o mito do gordinho quase sempre alegrinho e um tanto abestalhado, mas também não faço o tipo de gordinho boa-praça, tão comum: não sou engraçadinho – pelo menos não voluntariamente – nem aquele primor de simpatia que o mundo em geral espera dos gordinhos. Sou escrotinho (pode falar escrotinho aqui, Dudu?).

É claro que achar que todo gordinho tem de ser simpatiquinho é uma idiotice sem tamanho. Nem todo gordinho é legal. Eu não, pelo menos, e, do alto de meu umbigo profundamente incrustado no topo de minha vasta pança, faço disto uma regra que aplico indiscriminadamente para todo o resto do mundo. Tem gordo legal, tem gordo escroto, tem gordo otário e tem gordo bandido. Eu normalmente fico preso entre as duas últimas alternativas. Só que o mundo espera que você aceite as coisas, sempre, com um sorriso de orelha a orelha. Não é meu estilo.

Na Bienal do Livro, por exemplo, onde estive e onde não suportei ficar, devido ao estado calamitoso do Centro de Convenções, ao me aproximar de um estande, tive de ouvir um vendedor, a plenos pulmões, berrar “finalmente um peso pesado em meu estande”. Não tenho muita paciência pra falta de educação. Minha única resposta foi “pois é, mas o peso pesado, que vai gastar uma quantidade de dinheiro pantagruélica em livros aqui na Bienal, prefere comprar livros de vendedores mais bem-educados

Pensei ainda em escrever sobre o mito do gordo que come pouco. Eu, por incrível que pareça (não tenho fotos para demonstrar, mas pode confiar quando eu digo que parece incrível), como pouco. Minhas irmãs, que são mais ou menos, comem mais que eu. Na verdade, eu como mal. Tenho umas paradas na tireóide também e patati patatá, mas o fato é que como pouco. Claro que, quando eu vou num restaurante com gente com quem não tenho intimidade e termino comendo pouco, a conversa é sempre a mesma: é impossível que você coma tão pouco. Você é estramboticamente gordinho, tem de comer mais.

Daí vem um outro lance: o gordo, quando come, sempre está comendo demais. Repare. Você passa o dia inteiro na agência, sem tempo nem de se coçar, daí para de noitinha num japa pra fazer um rango e os olhares, que falam mais alto que tudo neste mundo, te recriminam: “Olha lá o gordo comendo”. Se você vai no cinema e compra pipoca, coisa que todo mundo faz, “olha lá o gordo comendo”. Se você deixa sua namorada levar a pipoca e vai mais atrás com as mãos no bolso, “olha lá o gordo preguiçoso, fazendo tipo de que não vai comer enquanto a namorada vai carregando uma Scania de pipoca”.

Isso já me irritou. Hoje eu ando meio que com o botão do foda-se (ops… vai desculpando, audiência….) no volume máximo, e nem faço disso um cavalo de batalha. Me dou ao direito de ser grosso com quem é comigo.

Pensei ainda em falar sobre a tão famosa dieta da proteína – estou nela agora – que faz com que o gordinho fique com água na boca e desejando ardorosamente botar na boca um naco de pão francês dormido, a ponto de este desejo ser mais protuberante do que o de um garoto de 14 anos ao ver uma foto qualquer da Scarlet Johansson. Pensei em tantos temas, tantas coisas…

Daí, tá. Depois tão árduo trabalho intelectual, fiz uma boquinha – “Olha lá o gordo comendo!” – e formulei elucubrações suspeitas e silogismos patabológicos, o que vai contra meu estilo de escrever – normalmente vou vomitando nos posts todas as baixarias que vêm à mente. Não tinha nenhum bom tema pra coluna, Dudu, vai desculpando a bagunça. Espero que isso não macule nossa amizade. Ah, e quando for rolar a bacia de merengues e morangos, convida os bródis.

Jorge Martins é diretor de criação da CDLJ Publicidade, a melhor agência de Salvador e, em breve, do mundo. Bonito, elegante, cheiroso, comedor de gente, inteligente e um gentleman em todos os aspectos da vida. É engraçadinho, OK… mas um ser humano único! Principalmente para mim, que sou mãe dele e escrevi esta descrição. Jorge Martins

Publicidade

Comente no Facebook

Comente no Site

10 respostas para “As aventuras do gordinho bandido”

  1. lila disse:

    Este é meu gordinho bebê! Meu irmão. Sou uma das irmãs e garanto que eu e a outra irmã(elly) comemos bem mais que ele!Eu me sinto gorda, mas não sou(tenho 60kg e 1.68mt)
    E ele é engraçado demais sim, mas não é graça para patuléia; é para quem entende a ironia refinada!

  2. HAhahahh a descrição dele é melhor kkkkkkkkkkkkkkk

  3. O Jorge é uma figura mesmo. Legal ver q ele vai contribuir aqui no Papo de Gordo.
    Abraços!

  4. Típico do Jorge pedir pra mãe escrever a própria descrição.
    :-P

  5. Gostei da sua apresentação. Também sou do time nem toda gorda é bem humorada e “simpatiquinha”, na maioria das vezes ando com um quente e dois fervendo! rs

  6. Tamara Ka disse:

    Oi Jorge:
    Também sou da categoria gorda que come estranho: sou vegetariana.
    Adorei sua explicação do peso que é comer em público e com certos amigos (amigos da onça, mas enfim, é dificil se livrar de todos os malas).

    Um abração!

  7. Ainda estou tentando me recuperar da imagem uma bacia de leite condensado acompanhado de morangos e merengues…

  8. Elisabeth Martins Vieira disse:

    Jorginho, há tempo que procuro seu blog, gostei muito da sua apresentação, como acho vc bastante inteligente sou suspeita de falar.
    Posso continuar escrevendo.
    Bjs tia Betinha!!!!!

  9. jessica disse:

    ei cuidado com os gordinhos até eles estão virando modelos coidado para não tomar o seu cantinho!

  10. “Olha lá o gordo comendo”… terrível isso. O que você falou é a mais pura verdade. As vezes você passou o dia todo sem comer e no fim do dia come um torrada e pronto, já te criticam e dizem que o gordo tá comendo…

    Cansado dessa vida de gordo :/

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *