Uma tarde no rodízio

Flavio F. Soares
@FlavioFSoares

Publicado em 18 de abril de 2011

Sul Nativa ChurrascariaAcredito ser sinal de inteligência nunca levar uma pessoa a um restaurante de culinária típica de sua região, fora de sua região. Confuso? É. Também achei. Vamos tentar melhorar.

De maneira prática, estou querendo dizer que considero um erro levar, por exemplo, um japonês em visita ao Brasil a um restaurante típico… japonês! Cacete! O sujeito come comida japonesa todo santo dia e você vai levá-lo pra almoçar na Liberdade? Além de ser uma tremenda bola fora, o visitante em questão vai falar mal da comida (por melhor que ela seja) porque, afinal de contas, ela não é comida japonesa e, sim, comida “tipo” japonesa.

Esta longa introdução serviu apenas para mostrar meu argumento para nunca, em três anos de união, ter levado minha mulher, natural de Porto Alegre, a uma churrascaria/rodízio em São Paulo. É como o exemplo da comida japonesa: por melhor que seja a carne, nunca será preparada da forma como é no sul do país (afinal de contas, aqui serve-se churrasco gaúcho ao gosto do paulista).

Essa (minha) escrita mudou, porém, há algumas semanas, quando juntamos alguns amigos para comemorar o aniversário dela.

Por ser ela a aniversariante, coube-lhe a tarefa de decidir onde comeríamos. Para minha surpresa, o lugar escolhido foi uma churrascaria em atividade já há bastante tempo na Zona Norte de São Paulo: a Sul Nativa.

Confesso que nos (meus) áureos tempos fui frequentador assíduo da casa, mas desde que ela passou por uma grande reforma nunca mais apareci lá. De início fiquei surpreso de maneira positiva com a atenção dos funcionários. No momento da reserva havíamos pedido comandas individuais para que todos tivessem um controle sobre seu consumo e, inesperadamente, não houve nenhum contratempo na execução do serviço (coisa rara de se ver, diga-se). Ponto para a casa.

O ambiente amplo e bem iluminado também merece menção. Reservamos uma mesa para 20 pessoas e, mesmo que os ausentes tivessem comparecido, ainda assim estaríamos confortavelmente bem instalados, afastados da grande circulação do salão e próximos o bastante do buffet.

De início, enquanto esperávamos pelos demais convidados, a mesa foi abastecida com pequenos pasteizinhos de carne. Bem feitos, secos na medida e com recheio justo, serviram para evitar que alguém caísse de fome. Mas, se for à casa, não exagere nos pastéis ou ficará “estufado” demais para aproveitar o “menu principal”. As carnes começaram a ser servidas após a chegada dos últimos convidados, mas antes dei uma breve passada pelo buffet de saladas e frios que, se não era um primor de variedade cumpria bem o seu papel de preparar o terreno para a sequência de medalhões, fraldinhas, maminhas e picanhas que estavam por vir.

Aproveitei também e me servi com um pouco de feijoada (era sábado, afinal). Bem cozida, com as carnes separadas permitindo que  pegasse apenas as minhas variedades preferidas, em princípio me pareceu um pouco salgada demais. Cabe aqui um parêntese: de todos na mesa que se serviram de feijoada, fui o único a ficar com esta impressão, sendo assim sou forçado a acreditar que os anos de refeições com reduzidas quantidades de sal finalmente cobraram seu preço e provaram que meu paladar mudou radicalmente (vocês deviam experimentar esta sensação). Pela opinião da maioria, a feijoada estava ótima.

Já as carnes ficaram um pouco irregulares. A maminha estava bem assada e suculenta, ao passo que o medalhão de frango (como de hábito em rodízios) estava uma tanto quanto seco. A picanha, dourada por fora e bem rosada por dentro tinha aquele sabor de “queimado” tão gostoso em partes da gordura, atendendo bem às expectativas. Já a costela de porco estava insossa e o matambre veio com muita salsa, mascarando completamente qualquer possibilidade de sabor que pudesse exietir na costela e no bacon, enquanto que o cupim (“carne de paulista” para boa parte dos gaúchos concultados), estava no ponto certo pedindo, porém, um pouco mais de sal. O javali manteve seu sabor forte, mas foi pouco servido na mesa.

De modo geral, as carnes terminaram na média do “competente”. Não ficaram gravadas na memória de ninguém mas também não depuseram contra a casa.

Pouco antes de pedirmos as sobremesas, um momento engraçado: “Hã… Parabéns…?” foi a resposta de um constrangido garçom à pergunta: “Aniversariante ganha o quê?”. Rimos, é claro, e fomos enfrentar os doces que não inspiraram grandes suspiros ficando apenas no lugar-comum das churrascarias de São Paulo. No geral saímos de lá satisfeitos, bem servidos e bem alimentados. Claro que o Sul Nativa não é “A” churrascaria paulistana, mas também não deixa de entregar um rodízio honesto pelos preços praticados na casa.

Mas também é justo dizer que a aniversariante poderia, pelo menos, ter ganho a sobremesa. Talvez isso evitasse a frase “gostoso, mas não é como no sul”. Pelo menos, em minha defesa, posso dizer que não fui eu quem escolheu o local.

Serviço:
Sul Nativa Churrascaria
Avenida Braz Leme, 2115
Santana – SP
(11) 3476-8570

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4 respostas para “Uma tarde no rodízio”

  1. Leo Luz disse:

    Hahahahaahahahahaahahahaha

    Que demais, ver esse texto aqui e lembrar na cabeça, tudo o que se passou nesse maravilhoso e saboroso aniversário. Parabéns a Camila novamente o/

    Concordo em quase tudo o que o Flávio disse. Realmente o serviço estava impecável, com garçons bem portados e nos servindo fielmente. O buffet estava com todos os gostos, e até mesmo comida japonesa, com sushis, temakis, além de salames fatiados, queijos em cubos.

    A carne estava muito boa, pena que eu peguei algumas secas demais, outra não tão ao ponto. Sangria é bom, mas não exagerem. Fora isso, um ótimo dia em companhia agradável.

  2. EmersonMH disse:

    Sempre bom ler um artigo sobre comida e, melhor ainda, escrito por quem mais entende do assunto: gordo.

    Sou carioca, mas conheço alguns restaurantes de São Paulo. Na grande maioria, o serviço é muito melhor do que o oferecido aqui no Rio. E o sabor da comida tb muito bom.

    Apesar de vc ter achado apenas mediano e competente, vou ficar com essa dica quando estiver na zona norte de sp (volta e meia fico no Novotel perto da rodoviária). Valeu!

  3. Carolina disse:

    “Hã… Parabéns…?” ai, que ótimo. O pessoal que conheço aqui de SP que curte um churrasco só gosta de churrascaria gaúcha-paulistana. Quando vão para o sul dizem que não é a mesma coisa…enfim questão de gosto e nem posso opinar porque quando vou a churrascaria pego tudo menos carne.

  4. SamuraiZatoichi disse:

    Pois é, sou descendente de japoneses e fico horrorizado com o cream cheese, alfaces, couves nos “sushis”. Comida japonesa sempre foi da minha vó que veio do japão já sabendo cozinhar, então adaptar-me às adaptações ocidentais foi difícil, mas gordo que se preza não deixa de comer por essas amenidades.. :P

    Sou hipertenso e também sofro muito com o sal nos restaurantes, mas acabo fazendo amizade com o pessoal do restaurante e solicito tudo com o menos sal possível, a ponto de separarem para mim uma peça de picanha, outra de maminha, alcatra, tudo sem sal… já a costela é preparada com o sal, mas não vamos desperdiçar a ida ao rodízio, né mesmo?

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