Detox digital
Publicado em 12 de fevereiro de 2015
Detox está na moda e uma das minhas resoluções para este ano foi fazer uma detox em mim, ou de mim, quer dizer, não sei direito ainda…
Mentira, não fiz nada de resolução porque, sabendo muito bem como eu sou, as resoluções de ano novo nunca foram muito levadas a sério. Enfim, este ano pensei que seria uma boa ideia mudar algumas coisas que não me deixam muito confortável.
Como tem muita coisa para mudar, comecei com um detox tecnológico. Decretei que não posso mais passar meus dias rodando em volta do 
celular/PC, de sair com amigos e ficar em redes sociais publicando fotos e não aproveitar o momento. Sim, porque nós não aproveitamos o momento depois de uma foto postada. Voltamos a cada 2 minutos para ver quem curtiu e comentou.
Guarde as fotos, publique, mas publique-as quando já estiver em casa. Aproveite cada segundo com quem você está, onde você está. O mundo não vai parar de girar se as pessoas não souberem que você está naquele restaurante comendo aquela comida, ou naquela praia legal… as pessoas podem esperar. Aliás, esperar é algo que estamos desaprendendo. Tudo tem de ser agora: informações, notícias, resoluções, felicidade… Pressa nunca foi amiga da perfeição e, agora com 40 anos, isso passou a fazer sentido para mim. Aprendi que gostei de esperar, de aproveitar as coisas com mais paciência e tranquilidade.
Passei um tempo fora do Facebook e não, não sofri, não tive tremedeira e nem deixei de saber do mundo. Para falar a verdade, foram semanas de tranquilidade. Não me irritei com o que não me diz respeito, não avalei ou fui avaliada e preservei um pouquinho da minha privacidade. E não é que foi legal?
Esse negócio de internet deixa todo mundo muito próximo e isso é ótimo, mas também é horrível. Não parece meio estranho uma pessoa que nunca me viu pessoalmente, que só me conhece pelas minhas publicações, poder ter acesso e poder comentar sobre minha vida? Por mais que a gente ache que não está exposto, sua vida está lá para o mundo ver. Eu sei, parece papo de tia chata, mas foi o que senti. Claro que a culpa é minha, eu posso muito bem não escrever ou publicar nada sobre mim, mas quem resiste? Resistir é tão difícil que estou eu aqui escrevendo para um blog.
Durante as últimas semanas eu sou uma pessoa que dá uma olhada no seu Facebook, acompanha o seu twitter, recebe e envia e-mails, escreve textos, lê seus sites preferidos, faz suas pesquisinhas, mas com moderação, sem perder seu tempo, fazendo isso apenas quando tem tempo.
Eu não aproveitava as apresentações que minha filha fazia na escola. Passava o tempo tentando fazer a melhor foto ou filmando. Vê-la sem ser através de uma lente é muito, mas muito melhor. Hoje continuo levando toda a tralha para a cobertura jornalística materna, mas faço uma ou duas fotos durante a apresentação e o resto eu guardo na minha memória. Se pensarmos bem, quantas vezes assistimos o vídeo de apresentação das crias? Agora eu sei que quando ela me procura na plateia, ela vê meu rosto e não uma câmera fotográfica.
Há algum tempo eu tenho notado em mim e outras pessoas que começa a existir a necessidade de voltar ao tempo analógico. Ao tempo de sentar e conversar, só conversar mesmo. A exposição, a batalha por curtidas, compartilhamentos e reconhecimento transformou as redes sociais em um lugar sem noção. Pessoas postam tudo o que acham que pode chamar a atenção dos outros e esquecem que devemos pensar na pessoa que está no vídeo, foto, na história.
Penso que a pergunta básica é: e se fosse eu? No final, toda essa “intimidade” que a internet nos dá, está meio que afastando as pessoas de outras pessoas e de seu bom senso. Neste último mês a minha detox me deixou uma pessoa mais calma, com mais tempo e, por que não dizer, com vontade de fazer um monte de coisa que eu queria mas o vício não me deixava.
Chelly “a quase desintoxicada” Ramos
Viver a vida… não através de uma lente, mas pelo estímulo dos sentidos que temos criando sentimentos verdadeiros de prazer…dor…tristeza…não importa…sentimentos autênticos e não cutucadas, curti ou comentários exóticos de quem não estava presente e acha que te conhece… legal ter vida digital …mas é mais legal viver a vida real…