Apenas uma caminhada…

Vinicius Tapioca
@DrTapioca

Publicado em 08 de maio de 2017

Hoje tive uma experiência interessante, deixei o carro no mecânico e resolvi voltar a pé para casa. No caminho presenciei coisas que não costumo ver pois sempre me locomovo de carro. Contraditório não caminhar numa cidade em que tudo é perto, mas não sou o único que tem o hábito de sempre usar o automóvel ao invés de ir a pé, na verdade, até estranhei não encontrar nenhuma carona no caminho, de certa forma foi até bom, assim pude desfrutar de uma boa caminhada pelo centro da cidade numa movimentada manhã de sábado.

Na primeira esquina já me deparei com uma pitoresca briga de bar. Não daquelas cinematográficas, com murros, chutes e cadeiras voando, mas uma briga de palavras, algo mais “intelectual”. Pelo que entendi, o motivo da peleja era descobrir “quem é otário agora”, realmente uma decisão difícil, posto que os dois envolvidos estavam tão bêbados que ficava difícil definir o (mais) otário. Votei no de camisa vermelha, pois falava mais alto e, em geral, quem não tem argumentos, grita na tentativa de ter razão. Após 5 minutos de fervorosa discussão ainda não se havia chegado a um consenso, portanto segui meu caminho sem descobrir afinal quem era o otário, mas o de vermelho tinha o maior jeito.

Muita gente na rua, de todo o tipo, ricos e pobres, novos e idosos, mães com crianças, crianças com bonecos, bonecos sem braços. Passei na porta de um estabelecimento comercial e um senhor explicava para um rapaz que “a Bíblia manda levar o evangelho a todas as criaturas, mas aquela ‘ninsgraça’ merece levar uma surra pra ver o que é bom”. Isso me gerou várias dúvidas… primeiro, já que o Sr. Ninsgraça não merece ter o evangelho levado a ele, isso o destitui da posição de criatura, portanto ele não foi criado, sendo assim ele surgiu na Terra como? Geração espontânea? Outra coisa, como ele vai ver o que é bom levando uma surra? Será que por estímulo reverso? Ele apanha pra saber o que é ruim e por conseguinte aprende o que é bom, que certamente não é a surra que ele estará levando. Cultura popular sendo sábia, como sempre.

Chegando à Rua da Lama (vou me reservar o direito de chamá-la pelo nome popular) descobri que leis de trânsito não se aplicam a motos, só a carros, pois um motoqueiro (ele não merece o título de motociclista) percorreu praticamente a rua toda na contramão, já estava muito além da famosa “roubadinha”, aquilo já era um latrocínio! Não satisfeito, ainda olhou pro lado para dar uma cantada numa jovem que caminhava carregando suas sacolas pesadas. Não sei o que ele falou, mas imagino que tenha sido algo de muito bom gosto, algo lúdico, talvez um trecho de algum poema de Drummond, ainda assim a moça lhe desprezou com uma empinada de nariz seguida de uma virada de cabeça que fez suas belas madeixas castanhas voarem sobre o ombro, o que causaria inveja à própria Rita Hayworth. O breve momento de desatenção do motoqueiro, além é claro do fato de ele estar trafegando em sentido proibido, quase o fez se chocar com um carro que entrava na rua. Imagino o que ele diria no hospital se fosse atingido: “Dotô, o carro me pegô na rua”. Se eu ganhasse R$ 1,00 pra cada vez que eu ouvi isso…

Passando na praça dos​ Correios​, me deparei com um vendedor de água mineral anunciando seu produto a plenos pulmões: “olha a água, olha a água, água é vida, água é saúde, deixa o velho moço e o moço mais moço”. Devo informar que essa água está contra-indicada para o uso pediátrico, menor de 2 anos então, pode virar feto na sua frente. Deus é mais! Imagino que se só água já está fazendo isso tudo, o que será que estão prometendo com a tradicional garrafada da feira? “Leve pra casa sua garrafada, cura câncer, pneumonia, unha encravada e paralisia. Com a Garrafada Mimosa até sua sogra ficará gostosa”. Até a paralisia dava pra engolir, mas esse final já mostra que o negócio é pura balela.

Depois de 15 minutos de caminhada, cheguei em casa satisfeito com a experiência, além de fazer bem ao corpo, me relaxou o espírito e desanuviou minha mente, recomendo a todos.

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