O valor de uma mãe

Eduardo Sales Filho
@eduardo_sales

Publicado em 30 de janeiro de 2008

Todo mundo sabe que mãe é mãe. Ninguém jamais discute o amor materno nem tudo aquilo que uma mãe faz pelos seus filhos, mas só nos momentos em que isso fica óbvio, é que você vê o quanto ela realmente te ama.

Minha mãe tem 60 anos, é professora aposentada e famosa pelas suas “dinorâncias”, como diria meu pai. Ao longo da minha vida ela me deu milhares de demonstrações de amor. Desde coisas pequenas; como um abraço apertado de saudade, até uma senhora ajuda pra pagar as contas no fim do mês.

Na minha família todos dizem que sou o filho preferido. Não questiono isso, afinal sempre me senti muito amado. Mas dona Marizinha sabe dividir o seu amor e dedicação entre os três filhos, então acho que as minhas irmãs nunca chegaram a sentir ciúmes.

Quando nasceu a minha primeira sobrinha admito que eu fiquei com ciúmes. De uma hora para outra havia perdido meu posto de caçula da casa pra um bebê com cara de joelho (eu te amo, Nanda, mas você tinha cara de joelho sim!). Demorou, mas passei a aceitar o fato de que não poderia ser o queridinho para sempre.

Brinquei muito durante o terceiro ano colegial e acabei caindo na recuperação de quatro matérias. Minha mãe se esforçou ao máximo pra me dar forças e sei que isso me ajudou a passar de ano.

Minha mãe sofreu muito quando me mudei para São Paulo. Durante um tempo eu fiquei sem telefone, todas as noites ia até um orelhão só pra ligar pra casa. Anos mais tarde ela me confessou que só conseguia dormir tranquila depois que falava comigo.

Quando perdi meu emprego em São Paulo e voltei pra Bahia com uma mão na frente e outra atrás, minha mãe me ajudou a não cair em depressão e me ajudou (juntamente com meu pai, tenho que ser justo) a reconstruir a minha vida profissional, agora em outra área.

Tive diversas crises quando estava com pedras na vesícula, mas foi só depois de ver a cara de desespero da minha mãe ao presenciar uma dessas crises que tive coragem de fazer a cirurgia… e ela me acompanhou no hospital e em todo o processo pós-operatório. Lembro inclusive que quase teve um infarto quando me viu comendo batata frita com menos de dez dias de operado.

Desde que decidi fazer a redução de estômago tive total apoio da minha mãe. Ela foi em algumas consultas e reuniões comigo para se inteirar direito de como seriam as coisas. Na semana anterior à minha cirurgia ela providenciou comprar duas pijamas novas para eu ter o que vestir no hospital. Ela foi a única pessoa ao meu lado na hora que me levaram pro centro cirúrgico, e chorou quando não pôde me acompanhar pelo resto do corredor. Ela ficou comigo no hospital, dormindo num sofá claramente desconfortável e sempre disposta a me ajudar no meio da noite quando a chamava.

Quando tive alta do hospital, ela veio pra casa comigo. Me trazia um copinho de suco, yogurt ou gatorade a cada meia hora. Fez com que eu tomasse todos os remédios na hora certa. Foi uma enfermeira de mão cheia ao limpar diariamente o local da cirurgia e trocar os curativos. Se aventurou na cozinha (coisa que ela nunca faz) para fazer mingau de aveia e vitamina de albumina pra mim. Me enxugou depois do banho e me ajudou a trocar de roupa. Calçou minhas meias e sapatos sempre que necessário. Nunca reclamou por ter de acordar no meio da noite pra me ajudar a levantar da cama quando eu queria ir ao banheiro.

Depois de vinte dias de convívio intensivo comigo, ela foi embora hoje. Eu já estou bem melhor e ela precisava voltar pra casa, pra Amargosa. Na hora das despedidas lhe dei um abraço forte e disse:
– Obrigado por tudo, mãe. Por tudo mesmo!
Ela chorou, e eu também.

Estou escrevendo esse texto porque preciso registrar esse momento pra posteridade. Quero guardar pra sempre essa sensação inebriante de me sentir amado com tanta intensidade. Não sei se as lágrimas que escorrem do meu rosto agora são indício de um desequilíbrio emocional natural decorrente da cirurgia, só sei que hoje eu precisava muito dizer uma coisa:
Te amo, mãe. Muito obrigado por tudo que você fez por mim durante os últimos 31 anos.
E nem pense em relaxar, porque tenho certeza que ainda vou te dar muito trabalho.

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4 respostas para “O valor de uma mãe”

  1. Olá Eduardo,
    Achei muito bacana este post que vc escreveu para sua mãe. Eu também tenho uma relação muito intensa com a minha, por isso reconheço o sentimento que vc tem pela sua.

    Somos homens de sorte.

    Parabéns pelo blog.

    Maurício Goiano ((((mauriciogoiano.blog.terra.com.br))))

  2. olá poderoso,

    como não chorar lendo esta declaração de amor e reconhecimento, Dudu. Amor é foda, ne?!

    bjão p vc p sua super mammy! hehe

  3. Nerdanderthal disse:

    É por isso que, apesar da minha idade – 61 anos, ainda tenho dentro de mim essa vontade de viver, essa alegria e bom-humor, certamente herdados da minha mãe, ainda lúcida, trabalhadora e sempre amiga e protetora com seus quase 90 anos.
    Felizes somos por tê-las por perto e por nos ter ensinado, na prática, o que é o amor.
    Parabéns a você, Dudu, por ter a grandeza de expor esse sentimento, o que jamais deveria ser vergonha pra tantos outros.

  4. […] dez anos escrevi um texto aqui no blog chamado “O Valor de uma Mãe“. Ele foi publicado no dia em que minha mãe voltou para Amargosa depois de ter passado um […]

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