Poesias para gordinhos

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 25 de novembro de 2009

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

Depois da fazer repentistas ficarem enjoados e Drummond se remexer no túmulo, fui tomado por mais um momento de alma poética. Só que, como dessa vez estava sem muita criatividade, fui caçar em meu velho caderno de poesias adolescentes uns versinhos obesos para fazer um “Control C Control V” metafórico.

Selecionei, então, poeminhas sobre gordos ou que façam uma relação com comida (ou com o fim de seu processamento orgânico, o que explica a poesia nojenta do final).

Sim, admito que é mais falta do que escrever hoje do que uma verdadeira sensação poética emanando de minh’alma, mas vou arriscar esse momento vergonha alheia e apresentar belas poesias escritas no século passado, lá pelos meus 16/17 anos.

Caraca… Tô velho… E brega…

—–

Poeta escrevendo poesia (ou pensando em se matar ao ler o que escreveu, sei lá)Um gordo no minibugue

A visão me enche os olhos:
– Um gordo no minibugue! Espantado estou!
Viro-me para o espelho:
– Também sou gordo!
E a vida segue…

Por anos a fio
a vida ingrata
mantém em mim a gordura dilatada!
Não me permite
colesterol baixo,
coluna reta e sem dor,
e nem o sublime amor!

Aceito resignado:
– Sou gordo sim! Mas sou feliz!
E concluo revoltado:
– Muito mais gordo é quem me diz!

E sigo vivendo,
aceitando minha condição,
na colestérica churrascaria rodízio que é a vida…

—–

Alimentando a alma

Nhect!
Mordendo o biscoito
alimentando as lombrigas
e as solitárias em comunidade

Nhact!
Lambendo os beiços
o alimento adentra o estômago
para seguir caminhos inimagináveis

Nhoct!
Não para de comer
até que dói a barriga
e tudo diz tchau
para a úlcera
e diz oi
para a água sanitária

Burp!
Comer é como viver:
a gente sabe para onde a comida vai
só não sabe para onde a comida vai

—–

Canção da prisão de ventre

No banheiro, sozinho,
tenho a sensação de um novo alvorecer.
Um mundo de possibilidades abre-se
na simples visão do papel higiênico.

O cheiro perfuma o ambiente
como um odor de lírios do campo mortos.
Medito… E vejo que ao fazer força
também posso mijar.

O líquido esvai-se da bexiga
qual a água da chuva corre pelas ruas e, com a lama, destrói morros.
A sensação de cagar e mijar é como a de sentir-se um deus,
que tem o poder de tudo fazer
no vaso sanitário!

Mas todo o meu pensamento,
outrora forte e poderoso
vai embora…
com um simples toque na descarga.

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