Gordices na Serra Gaúcha

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 27 de setembro de 2010

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

Não gosto de praia e detesto calor. Entre as opções clássicas de férias, prefiro mil vezes o friozinho da serra. Por isso mesmo, não foi nem um pouco sacrificante passar alguns dias na Serra Gaúcha, mais precisamente em Caxias do Sul, a cidade com o menor aeroporto no qual eu já pousei até hoje (e espero que mantenha o título porque, menor que aquele, só se eu estiver em um ultraleve – o que geraria um paradoxo).

Caxias do Sul me impressionou em alguns aspectos. Pra começar, no medo que todo mundo me colocava: “Não ande na rua à noite”, “Não ande na rua sozinho”, “Na verdade, não ande na rua!” e por aí vai. Eu ia de táxi pra cima e pra baixo e via, realmente, ruas desertas a qualquer hora do dia. Não que os táxis fossem uma boa opção, já que eles possuem uma blindagem interna que protege o motorista e reduz absurdamente o espaço dos passageiros, fazendo com que eu não conseguisse me mover no banco da frente e sequer cogitasse sentar atrás do motorista.

Eu vim do Rio de Janeiro e isso tudo me assustou. Quer dizer algo, né?

Mas garanto que não fiquei com má impressão da cidade. Fiz passeios bem legais, mesmo considerando que Caxias não é exatamente uma cidade turística. Ainda assim, há coisas interessantes como o parque da cidade, a Igreja de São Pelegrino (com os famosos quadros da Via Sacra que parecem ambientados em Raccoon City) e o Presépio de Rolhas (uma casinha no meio do nada com várias maquetes que se movem feitas com rolhas – acredite: é bem legal).

Embora não tenha uma profusão muito grande de pontos turísticos, Caxias do Sul é ponto de partida de várias rotas turísticas bem interessantes envolvendo as demais cidades da Serra Gaúcha. Por conta disso, acabei também visitando Bento Gonçalves, Farroupilha, Garibaldi e, pra fugir um pouco da Casa das Sete Mulheres, Carlos Barbosa (aquela da Festiqueijo). Com isso, as potencialidades turísticas se ampliam consideravelmente. Passamos a ter a Maria Fumaça, a loja de fábrica da Tramontina (aprenda com meus erros: não leve mulheres pra lá que o prejuízo é certo!) e mais umas coisinhas que se baseiam em compras, compras e mais compras.

E é nesse contexto que entra o turismo gastronômico. Ou melhor, o turismo enólogo! Oh, contradição! Um gordo de raiz abstêmio visitando vinhedos e mais vinhedos com degustação à vontade (quem se deu bem foi minha noiva, que pegava minhas “provas” e as da minha irmã, que também não bebe). Essencialmente, só aproveitei os sucos de uva e os biscoitinhos salgados duros que eram servidos junto com os vinhos e os espumantes.

Ainda assim, foi muito legal conhecer vinícolas como Salton e Miolo (a preferida dos zumbis – purumpumpá!) e confirmar minha tese de que enólogos são criaturas mais chatas que fanboys tarja preta. Veja só o que aprendi por lá: Pra beber um vinho, você tem que segurar o copo de uma maneira específica, diferente da que todos estão acostumados, ou a bebida fica ruim; deve ficar admirando o visual do líquido antes de beber; e ainda precisa gastar uma nota preta para ter os melhores produtos, que são produzidos de forma exclusiva e secreta. É praticamente um iPhone líquido!

Para quem não gosta de álcool, há diversas opções de alimentação, claro. Mas como meu tempo era limitado, não experimentei muitas alternativas. Tirando o Burger King do gigantesco shopping da cidade, visitei um pub junto com os amigos podcasters Pablo e Vanassi (pedi guaraná pra disfarçar o fato de ser o único a não beber cerveja e congêneres).

Fora isso, no último dia fui com minha noiva e minha irmã ao Château La Cave, um castelo semifake (“semi” porque a planta original e a forma de construção são de castelos madievais europeus e “fake” por causa da decoração… digamos… à la Trapalhões) que conta com um restaurante maravilhoso. O atendimento é nota dez (com um preço não muito exagerado), mas fiquei um pouco assustado quando o garçom começou a pedir desculpas apavorado só porque deixou escorrer uma gotinha de guaraná por fora do copo. Talvez levem a história de castelo medieval tão a sério por lá que esquartejem os garçons que cometem pequenos erros, mas não creio. Na dúvida, não pedi chouriço nem linguiça.

Em resumo: A Serra Gaúcha é muito vinho, uma dose decente de comida e vários passeios de compras e mais compras e mais compras… E olha que nem fomos a Gramado, Canela e companhia… Fica pra próxima – alguém quer patrocinar? ;)

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10 respostas para “Gordices na Serra Gaúcha”

  1. Simone disse:

    Muuuito legal, eu amo as Serras Gauchas, e odeio praias, sol e afins, eu tenho medo do Green Peace por isto não vou a praia. Vai que eles resolvem me salvar, aí pensa na cena, aquele povo todo correndo com baldinho de água pra lá e pra cá tentando me desencalhar.
    Eu adoro vinho, pena vc não ter conhecido Canela e Gramado pra mim são as melhores.

    • enio gomes de lima disse:

      todo mundo fala só de Gramado e Canela. Entre Caxias do Sul e Gramado tem Nova Petrópolis, aquela do FESTIMALHAS, colonização alemã. Parque do Imigrante, etc, etc,etc. Vão lá também. Acesso pela BR 116 ou saindo de Gramado pela RS 235 se não estou enganado. São Francisco de Paula; Cambará do Sul ( a do canion do ITAIMBÉZINHO e outros canions). Vou morar lá, em Cambará do Sul, sair do concreto, concreto e olhar, contemplar a MÃE NATUREZA DE GRAÇA.

  2. A Serra Gaúcha é o melhor lugar no Brasil para se morar: Boa comida, as mulheres mais lindas do mundo (e inteligentes!) e um clima tipicamente europeu (frio bagarai, mas tá valendo).

    Valeu por divulgar os pontos positivos da cidade, que geralmente só é lembrada por seus times de Futebol, Festa da Uva ou eventual incidente/crime bizarro de repercussão nacional, ahuahauhauahuahuahauhau

  3. Mi disse:

    A sua descrição de Caxias do Sul me assustou, não é mais a Caxias do Sul que eu conheci, que pena!
    A loja da Tramontina em Carlos Barbosa é um paraíso para as mulheres, para a Pri deve ter sido um ótimo local pra comprar tudo aquilo que ela esqueceu de colocar na lista de chá de panela, né?! hihihi
    Esse post foi ótimo para matar a saudade de casa, valeu!

  4. Flávia Santos disse:

    Que bom que tu gostou daqui, Lucio! Tipo, não sou de Canela/Gramado/Caxias, mas sou de Porto Alegre e gaúcha, num contexto geral. E fico realmente bem feliz por teres gostado daqui.
    O sonho da minha mãe é se mudar pra serra! Realmente, é um dos locais mais legais do mundo! Às vezes, eu e a minha familia saímos de casa cedinho num sabado e vamos para lá só pra passar o dia.
    Ah, sabe o passeio de trem que tu fez? Quando eu estava na quarta série do fundamental, minha escola levou as duas turmas para passar um dia todo passeando na serra. Fomos em vinicolas, no Parque da Festa da Uva, na Maria-Fumaça e mais um monte de leugar. Cara, sério: MUITO TRI!

    Abração tio Lucio! E até a proxima vinda a Serra!

    PS: Rafael, tu disseste que a Serra é o melhor lugar do Brasil pra se morar. Pior que isso é bem verdade, pois minha professora de Teoria Geral do Turismo (faço Hotelaria aqui em POA) diz que "Para uma cidade ser muito boa para o turista, ela tem que ser PERFEITA para o morador."

  5. CescoDias disse:

    Mesmo não tendo visitado Gramado/Canela, notei que permaneceu nas cidades de colonização Alemã/Italiana, a parte que o Brasil inteiro mais conhece ou ouviu falar. Caxias do Sul seria, digamos assim, a metrópole da região, ou seja, a maior cidade e pólo industrial e, como toda cidade brasileira, com suas mazelas de segurança pública.

    Ainda existe uma parte da Serra Gaúcha que pouquíssima gente conhece, com outras culturas como a Russa, Polaca e até uma variação da própria cultura gaúcha – Sim,O RS tem algumas variações conforme a região. A região das Hortências, os Campos de Cima da Serra (literalmente vastos campos a 1.000m de altitude que no inverno ficam vermelhos de grama queimada pelo frio), os Canyons, o Templo Budista.
    Enfim, há muito³ a ser descoberto na região, tanto pelos turistas quanto pela própria população do Estado e investidores locais.

  6. Lucio Luiz disse:

    @Simone, fui a Gramado e Canela muitos anos atrás e gostei bastante; mas ainda pretendo revisitar as cidades.

    @Camila, o prejuízo na Tramontina e afins foi incalculável :)

    @CescoDias, pois é, fiquei no "básico" nessa viagem. Como eu estava num congresso, não tive muitos dias livres pra conhecer mais, porém pretendo voltar lá assim que for possível pra visitar todas as demais cidades, especialmente as menos conhecidas (costumam ser os passeios mais divertidos).

  7. Nauri Ribeiro disse:

    Cara, conheci o su blog a pouco tempo atrás e curti muito. Moro em Caxias do Sul e também tenho um blog, O Gourmet – Aventuras Gastronomicas, onde utilizo minhas viagens a trabalho para conhecer um pouco mais da riquissíma gastronomia Brasileira.

    Você foi muito feliz no teu post quando relatou as condições dos táxis caxienses, acredito que os únicos do Brasil a possuirem cabines anti gordos, como eu por exemplo, mérito do lobby realizado unto aos nossos excelentíssimos vereadores. Quanto a violência das ruas fiquei um pouco surpreso, moro na cidade a mais de 30 anos e nunca fui assaltado, mas é claro, Caxias é uma cidade industrial com crescente movimentação de pessoas e proporcionalmente tão violenta quanto qualquer metrópole brasileira.

    Uma coisa eu posso te afirmar, Caxias é um paraíso para gourmands gulosos, existe uma série de restaurante pitorescos que fogem da sofisticação e servem excelente comida e em grande quantidade, o Danubio é um exemplo disso (http://ogourmet.net/blog/?p=1007) que tem como carro chefe o bauru, mas posso garantir que não tem nada a ver com o Baurú que você conhece. Outro bom exemplo de nossa culinária é o Restaurante Andréa (http://ogourmet.net/blog/?p=693), para mim o melhor restaurante da cidade, e tem mais, mas fica para a outra vez.
    Um grande abraço

  8. Camila Braga disse:

    Concordo com você Lúcio! Gosto muito mais da serra gaúcha que da praia. O ambiente, as belezas naturais, as pessoas, o clima e principalmente a comida é muito melhor!

    Visitei recentemente Caxias do sul e o lugar é sensacional, me apaixonei pelas parreiras de uvas da região!! *-*

    Sempre leio o seu blog! Abs Camila Braga

  9. […] Crônica originalmente publicada em 27 de setembro de 2010 no Papo de Gordo. […]

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