Resenha: Turma da Mônica Jovem nº 33 – O peso de um problema

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 09 de maio de 2011

A edição 33 do gibi Turma da Mônica Jovem, que está nas bancas, traz uma história completa denominada “O peso de um problema”. Uma nova personagem, Isa, passa a fazer parte da versão adolescente da turminha e a trama gira em torno do fato dela ser obesa.

Não é fácil escrever para os jovens, especialmente quando queremos abordar temas complexos. Há um enorme risco da história ser muito “didática” (em outras palavras, chata) ou superficial. Exatamente por isso fiquei com dúvidas sobre como a questão da obesidade seria tratada na revista. Contudo, o roteiro de Maurício de Sousa, Marina Takeda e Sousa e Petra Leão consegue trazer uma adolescente gorda que não é estereotipada nem inverossímel. É simplesmente uma adolescente normal e perfeitamente real.

Vamos “contextualizar” para quem não acompanha a Turma da Mônica Jovem, mas sem estragar a história para quem ainda não leu. Há algumas edições, uma nova personagem foi apresentada, Maria Mello (a que está à esquerda na capa). Ela sofre de anorexia, problema que foi apresentado de forma muito sutil em histórias anteriores. Estava claro que preparavam terreno para tratar do assunto com mais profundidade quando a personagem já fosse mais conhecida.

A trama da edição 33 começa com a Maria Mello – bem “apresentada” para quem nunca leu o gibi – fazendo um ensaio fotográfico com o resto da turma. Essa introdução serve para reforçar sua preocupação excessiva em emagrecer, mesmo que, para isso, prejudique sua saúde deixando de comer. Nesse contexto, temos a primeira aparição da Isa (a menina que está à direita na capa – acho que todos sabem que quem está no centro é a Mônica, né?), que depois descobrimos que é a nova colega de classe deles.

Aí que vem o diferencial da história. Ao invés de partir para o caminho “fácil” de todo mundo gostar da gordinha logo de cara, a Maria Mello “aprender uma lição de vida” e outras pataquadas assim, os personagens reagem à nova colega de forma semelhante ao que aconteceria na “vida real”: Alguns fazem piadas sobre o peso dela, outros se aproximam por “interesse” (ela sempre leva docinhos pro recreio e divide com a galera) e, claro, há aqueles que realmente se tornam amigos da menina. Mas com um detalhe que demonstra o cuidado com a elaboração da história: Os amigos querem ajudar a Isa a emagrecer, mesmo que ela, em momento algum, tenha demonstrado ter qualquer problema com seus quilos a mais.

A trama se desenvolve de forma bem humorada, fazendo graça das tentativas de emagrecimento da Isa de forma leve e não ofensiva. No decorrer da história descobrimos que ela é uma gordinha yeah yeah, totalmente tranquila com sua situação. Fica claro que são as outras pessoas que se incomodam por ela ser gorda, tanto aqueles que a “zoam” quanto até mesmo seus amigos, que volta e meia sentem “vergonha alheia” quando ela faz atividades com as quais se diverte, mas que são motivo de piada para os demais. O único que não a enxerga como tendo um “problema” é o cadeirante Luca, exatamente quem melhor entende o que é ser considerado pelos outros como alguém incapaz de fazer o que deseja.

AVISO: Esse parágrafo comenta o final da história. Se você ainda não leu a revista, pule diretamente para o seguinte. No final, descobrimos que Isa tem hipotiroidismo. Mas, o que poderia parecer uma saída fácil para “justificar” o fato dela ser gorda, não estraga em nada a trama, já que a própria personagem explica que, depois de ter se tratado desde a infância, até poderia emagrecer, mas não faz isso porque não quer. Seu discurso final é bem simples e poderia sair da boca de qualquer pessoa bem resolvida com seu peso. Além disso, a Maria Mello não muda “magicamente” de opinião, continuando com a convicção de que ser gordo é ruim e que deve-se emagrecer a qualquer custo. A história, portanto, consegue fugir do didatismo e do politicamente correto e, exatamente por isso, ensina muito. Ponto para todos os envolvidos com essa edição.

O resultado final é uma das melhores edições já produzidas da Turma da Mônica Jovem, mostrando que mensagens importantes podem ser passadas de forma criativa, respeitando a inteligência dos leitores e, mais importante, trazendo personagens com os quais todos conseguem se identificar exatamente por não serem “unidimensionais”. Se você nunca leu essa revista, sugiro que dê uma chance pelo menos para essa edição.

—–

PS: Pois é, a turma da Mônica consegue mostrar que uma adolescente gorda pode ser feliz e amada ao mesmo tempo em que o Bolinha “teen” continua magro. Vai entender…

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15 respostas para “Resenha: Turma da Mônica Jovem nº 33 – O peso de um problema”

  1. Mi disse:

    Quando li resenha, fiquei assustada!

    Muito boa a abordagem e acima de tudo, é uma surpresa ver Turma da Monica aqui!

    Tio Lucio te cuida que daqui a pouco a galera tá pedindo a resenha do Grande Sertão Veredas ou do Casa Grande e Senzala, kkk

  2. Arthur Felipe disse:

    Compartilhei o link desse post no Twitter. Apesar de nunca ter encarado ler esse gibi (até porque, na minha concepção, o "gibi" é o da Turma da Mônica como crianças), o tema dessa edição realmente despertou meu interesse.

    Parabéns pelo review! =)

  3. Dango disse:

    Só li a primeira edição da Turma da Mônica Jovem… achei bem ruim. Soube q melhorou a partir da 4ª edição, ou algo assim… acho q tá na hora, sim, de dar uma nova chance a essa publicação.

    • Lucio Luiz disse:

      O primeiro arco de histórias realmente foi bem ruim, mas deram uma “ajeitada” no finalzinho. Minha sugestão é ler a partir da quinta edição, quando melhora. Depois dessa, até as histórias de “fantasia” ficaram boas (umas melhores, outras piores, mas nada comparado com a baixa qualidade do primeiro arco).

  4. Ótima resenha! Pegou bem o tratamento dado ao tema e ressaltou as partes chaves. Gostei muito! Vou dar RT =]

  5. Artur Antunes disse:

    O pessoal fala mal da Mônica jovem, mas já li algumas histórias e é uma revista maneira e esse artigo só serviu para demonstrar isso. Fantástica a história e o modo que é tratada a obesidade.

  6. Edmilson disse:

    Gostei do texto, não li a revistinha mas se for como descrita ela foi descrita está aprovada, aceitar as diferenças e gostar delas são coisas diferentes, os amigos por exemplo a aceitaram como gordinha mas não concordavam com a ideia, tenho atualmente "apenas" 88 quilos mas tenho problemas de saúde, vou emagrecer para me cuidar, se não fosse por isso continuaria gordinho, da forma que mais gosto de mim mesmo.

  7. Fernando disse:

    Parabéns pela resenha, você conseguiu captar muito bem as nuances da história. Acompanho a série da Turma da Mônica Jovem todo mês, é uma HQ que vem melhorando muito a cada nova edição, e essa foi realmente excelente, tratando temas como anorexia, estética, autoestima e saúde sem cair no didatismo nem nos estereótipos e banalizações.

    No fim das contas, tanto faz ser gordo, magro ou "na média", o importante é ter saúde, conteúdo e autoestima. Mas quem já passou pela adolescência deve lembrar que nessa idade não é assim que a turma pensa…

  8. Gostei muito da resenha, também admirei bastante o trabalho desta edição da revista!

    Só um detalhe em relação ao comentário final: do mesmo modo que o Bolinha teen está magro, todos os personagens centrais da Turma da Mônica Jovem também perderam suas principais características físicas quando cresceram: o Cebolinha tem cabelo e não fala mais errado; a Mônica deixou de ser baixinha e gordinha e seus dentes ficaram charmosos; o Cascão toma banho, a Magali controla a alimentação…

    O que, por um lado, foi um trunfo por mostrar o quanto os personagens de Maurício de Souza são bem elaborados e podem continuar plenamente a "serem eles mesmos" após crescerem e perderem logo aquilo que os distinguia, ao mesmo tempo fez a turma perder justamente um lado importante que tinha: de mostrar que os "heróis" não precisam ser sempre lindos, fisicamente "perfeitos".

    Por que, para abordar temas como esses, precisam sempre introduzir personagens novas? Por que todos tiveram que ficar tão bonitinhos quando cresceram?? Será que os "heróis" adolescentes, os personagens centrais, não podem ser gordinhos, baixinhos, com pouco cabelo – como os adolescentes normais são???

    • Lucio Luiz disse:

      Os personagens não perderam suas características, apenas estão diferentes. Como eu tenho acompanhado essa revista desde a primeira edição, posso afirmar que essas características não se perderam. Suponho que você tenha lido algumas descrições superficiais sobre como eles ficaram, então vou explicar melhor como as características vêm sendo desenvolvidas:

      O Cebolinha com cabelo realmente não gostei muito, mas até entendo por uma questão de visual (ele continua com um “formato” semelhante ao original). Porém, ele continua, sim, falando errado. Apenas mudou o seguinte ponto: Ele teria feito tratamento para a dislalia e, atualmente, troca as letras quando está nervoso ou sob pressão, o que funciona bem.

      A Mônica, se você ver nas histórias “normais”, tem a mesma altura e o mesmo corpo dos demais. Os xingamentos de baixinha e gorducha eram só implicância, como já foi desenvolvido em outras hitórias (ela era realmente baixinha e gorducha quando surgiu nas tirinhas nos anos 60, mas essa característica visual nunca esteve presente nos gibis). Já os dentes, continuam salientes, só que o estilo de desenho desse gibi não combinaria com dentes indo até o queixo. Tanto ela quanto o Titi continuam dentuços, portanto.

      O Cascão até toma banho, mas não gosta e continua fazendo “porquices”. Láááá atrás, nas tirinhas pré-gibis, ele também odiava banho, mas até tomava quando obrigado. A característica de nunca tomar banho foi desenvolvida nos gibis e sofreu uma certa “evolução” na turma jovem.

      Por fim, a Magali até se preocupa em controlar a alimentação, mas continua comendo que nem uma louca. Em várias histórias ela já apareceu “detonando” uma quantidade enorme de comida.

      Além disso, eles não são perfeitos e até já teve uma história que abordou exatamente isso. Não lembro agora quais as edições, mas teve um arco que mostrou uma espécie de “monstros do subconsciente”, que ressaltava os piores defeitos de cada um.

      Já sobre os personagens novos, no caso dessa história eram necessários, já que não havia personagens que, no “original infantil”, tivessem características que batessem com anorexia e obesidade. Porém, outros assuntos já foram abordados com personagens clássicos (ex.: Astronauta um tanto deprimido, Titi em cenas de ciúme exagerado e quase traição, etc.).

      Não estou “defendendo” a TMJ, apenas explicando porque minhas restrições ao Bolinha teen não se aplicam a esse gibi. Mas, claro, é minha visão e todo mundo pode entender de forma diferente. No caso do Bolinha, não sobrou NADA do personagem original. Na verdade, em toda a turma da Luluzinha teen, não tem nada do original nem nada de original, mas isso tudo já falei no post específico sobre eles :)

  9. Pablya disse:

    Eu tenho todos os gibis da Turma da Mônica Jovem.Eacho que esse foi o gibi mais bacana que foi produzido.

    Eu também acho que a felicidade não tem nada a ver com o seu peso,porque você tem que gostar de si mesmo do jeito que você é.

    Eu adorei a participação do Lucio Luiz no programa da Eliana hoje.

    Beijos :)

  10. carmen rs disse:

    Olá adorei ver que também as revistas infanto juvenis estão abordando temas de saude. Tenho uma filha de 9 anos de idade fã da turma da Mônica Jovem ,logo fico feliz que a mesma venha contribuir em informações para sua vida. Parabenizo a você Lucio pelo site. Assiste sua entrevista no programa da Eliana no dia de hoje 15 de maio. Sou uma das gordinhas feliz deste país onde muitos estão apenas preocupados com aparencia que pena lhes faltam valores reais. Enfim podes acreditar que serei uma seguidora e divulgadora desta boa ideia. boa semana.

  11. Isabela disse:

    Adoreei mto essa edição da Turma .. O Assunto sobre diferenças sociais é muito bom para nós, Adolescentes. Outra coisa q eu achei muito legal nessa edição é que se trata também sobre um assunto muito conhecido atualmente, O Bullying. É bom para aprendermos a respeitar os outros como eles são por dentro e naum por fora.

  12. KellyCML disse:

    Nossa vcs são demais tava doida atras dessa edição, porque um dia folheando ela no mercado achei muito boa, um tema tão dificil sendo tratado de forma tão leve, mas tava sem dinheiro pra levar e ficou aquela preocupação pra achar depois, ainda bem que alguém mais percebeu como eu que era uma revista importante. Agora que tenho o número quero compra-la e dar pra minhas sobrinhas, para elas terem essa boa referência, numa sociedade que só se cobra que principalmente as mulheres e meninas sejam magras e não saudaveis. O Mauricio está de parabêns!

  13. […] Contudo, quando falamos na Turma da Mônica Jovem, o papo muda. Mônica está magrinha e bem gatinha. Ainda conta com dentinhos saltados e cabelos que parecem bananas (mas trabalhados na chapinha), porém está bem longe de poder ser chamada de golducha (só o namorado da Magali, Quinzinho, que era gordinho na infância e continuou bem pançudo na versão jovem). Isso não significa que o tema obesidade não seja apresentado no gibi, só que são utilizados novos personagens para isso. Um bom exemplo é a edição 33 da revista, que já ganhou uma resenha no Papo de Gordo (para não me repetir, clique aqui e leia). […]

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